sábado, 13 de julho de 2013




"Na primeira manhã que te perdi
Acordei mais cansado que sozinho
Como um conde falando aos passarinhos
Como uma bumba-meu-boi sem capitão
E gemi como geme o arvoredo
Como a brisa descendo das colinas
Como quem perde o prumo e desatina
Como um boi no meio da multidão

Na segunda manhã que te perdi
Era tarde demais pra ser sozinho
Cruzei ruas, estradas e caminhos
Como um carro correndo em contramão
Pelo canto da boca num sussurro
Fiz um canto demente, absurdo
O lamento noturno dos viúvos
Como um gato gemendo no porão
Solidão."

Alceu Valença

terça-feira, 25 de junho de 2013

Do esquecimento restam as paredes



 Com o correr dos anos nossas cores se transfiguram. Nosso espectro do mundo. Nosso aspecto tangível, colorido e dolorido. O quadro inerte fixado na sala: cheio de pó, condenado ao esquecimento. Do vermelho amargo, castigado pelo sol, os tons pastéis me confundem. O vigor da arte some ao incorporar a brutalidade sutil da parede: o  cotidiano tributável que de tanto ver passa a não notar e esquecer.

Em que cratera vazia do meu peito escondi essa sala?coisa real por fora  como coisa real por dentro.

 Meu peito ,que regurgitava cor, espera calado a passagem das horas. Refletindo, despretensiosamente, os meus milhares de quadros esquecidos. Será que já se confundem com as paredes? Penso.
 O despertador  toca e  ao respirar o grunhido das horas  vejo que não há tempo para  pensar nos quadros que esqueci.

 [O cotidiano, de tanto ferir meus sentidos, me fez esquecer como é viver sem machucá-los]

 Meus quadros devem estar caindo cansados, deslizando por minhas paredes metafísicas, pra um buraco-talvez- ainda mais absconso.

Que medo me dá ter cor de parede! Ser vista e ainda assim desaparecer.