quinta-feira, 19 de novembro de 2009



Estranho quando a vida silencia. Não um silencio premeditado, mas sim como se de repente fosse tomado da vida o direito da voz, e todo o grito tornasse um caroço espesso na garganta. O que se vive é um reflexo amorfo que se tenta ser. Existir é suceder o peito ao pisão dos vindouros cavalos. Quando o choro não é físico, longe do fato consumado que é o chorar. Nos pesa no peito o dilacerar dos pisões..e então se chora, se grita, se dói, em amargura bruta, ofensiva. Como o triturar do vidro manso sobre a pele. Transparência vil, sobre o asco vermelho(vital)dos homens.

Me encontro cega, sobre uma multidão em tiroteio. A varanda do meu aglomerar é cheia de gritos surdos. Não só o meu. Não só o meu penar. São milhares de janelas que me circundam em tal orgia da dor...e o gozo me cabe, completamente por direito.
Absorvo-me, como se fosse convertida em esponja. De tal forma que a angustia se distrubuisse igualmente entre os membros que pulsam. Mascarando a dor em cansaço.

Amanhã é dia novo. Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano Cotidiano


Espero que um dia, vomite por inteiro meus gritos secos.
Colaram-se ao muco.
Ci Dade, Ci idade, Se...




Porque há o direito ao grito.
então eu grito.


Lispector.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lembrança.




Ela, era moça jovem, com um pouco de bonito, um pouco de amargo...Era crua, daquele tipo de nudez que transcede.O fato de alguém ser coberto de cores cruas, me instiga por completo.
Por exemplo, um dia de sol, carros conurbados, barulho, caos. Um homem velho, gordo com sete dentes a menos, abrindo uma janela plena pro vermelho do céu da boca.Carrega 2 latas de tinta, fortes, ásperas. Posso até sentir o cheiro das cores que portava.Uma era vermelho cereja, daquelas cores comestíveis que enchem os olhos e são visíveis ao paladar.Um universo de sensações tão intensas que são algutinadas em um segundo banal. As cores comestíveis são um tiro em orgão latente. A outra cor de de tão explosiva, alfinetava carinhosamente o coração dos homens. É um carinho suscinto, daqueles que mais se aproximam da verdade, suponho.
As cores são um afago silencioso, pia tão baixo que não nos cabe tentar ouvi-las.O homem gordo caminha ao lado da moça e TXIBUM, derruba as tintas em um tropeço cego. Os membros se armam e acolhem, como se fosse esponja sobre suco. Absorvem, sorvendo tal vida exposta,derramada. Moça de tons pastéis, sugando e sugando.

Tal fato permeia minhas lembranças, sempre. Em uma dança macabra e absurda. Imagino a moça cheia de poros, deitada nua perante o velho gorila, rolando no chão entre as tintas , em contínuos sorrisos.O sorriso é tão largo e farto na minha memória que fico imaginando sempre como um fato consumado.Infelizmente não o é. Provavelmente o moço continuaria a andar pela rua, como o rosto suado e barriga a escapar pela regata branca, meio cinza, meio preta-encardida-.A moça a andar apressada pela rua estreita, em um misto de medo e redenção.A tinta possivelmente ia continuar segura nas mãos do velho homem, que por ser tão velho a mão acompanhava a cronologia da velhice. Aliviada por passar em segurança do lado do velhote, atravessaria a rua, entraria em casa, comeria, assistiria televisão (no escuro). E abririam-se alguns feixes de luz no vasculhante do banheiro, feixes de uma multidão efervecente, agitada, como loucas mulheres no cio. Enraizariam algumas cores pesadas.Os homens ao vê-las respirariam com força, sem se dar conta.

Pobre da moça, pobre do velho, pobre de mim...que volto pra casa com o peito cheio do que nunca foi, mas que em mim é fato, é vida.

Vida minha que inexiste.



Um punhal.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

É bonito ser feio








Seio.



Dócil, dormente.



Ser fêmea sempre me foi, um dos maiores mistérios. Uma dor, fria.Reconhecia, lá se encontrava um seio redondo, uma vagina que por si só se designava e auto afirmava. A silhueta, as pernas.
Por mais que vomitasse, nada de doce encontrava. Contentei-me no agrupar em grupos essencialmente masculinos. Era renegada pelo corpo não espelhar. Não havia pênis, nem escroto, não havia peito farto, braço latente. Peço desculpa as extremas femistas pela polêmica declaração: Há sim milhares de diferenças entre o homem e a mulher. Não digo limitações gritantes, mas diferenças que se brutalizam e ferem.

Assim como no mundo animal, os machos procuram a fêmea pelo que se vê.Não admito a constante hipocrisia que escuto de que a única relevância para relações afetivas é a beleza inferior. Me sobe uma enorme vontade de violar o desconhecido que me diz, com um pequeno comentário rente a face" Beleza interior, é o caralho" corrompendo todos os meus escrúpulos e a educação que me foi dada com tanto esmero.Se um dia alguem puder me provar com clareza, não hesite. Quem sabe um dia, um casal bate à minha porta, ele loiro, malhado, bonito. ela, representação da mulher melância e me dirão, que se amam somente pelo que interiormente aparentam. Não me foge da mente a impossibilidade de tal ato.
Pois bem, nisso inconstestávelmente homens e mulheres não se diferem.


Há uma constante que não é mutável, como um "x" equacional sempre presente, desprezível mas não inexistente. As mulheres são sempre amáveis, (sim!) É um brilho intenso, uma beleza quase que maternal, gritante de ser ver. Bela, por fim.
Os homens tem uma espécie de parede concreta, talvez na auto-afirmação do neolítico não abandonado. O homem proteje a cria, a mulher procria. Os tempos são outros, certamente. Milhares de outros fatores foram adicionados juntos a constante existente.Seja, educação, trabalho, meio em que vive, sociedade, enfim.
Houve uma evidente divisão de subgrupos: Os "adequados", e os "A se adequar"
É gritante o fascínio do ser em afirmar-se.


Há uma margem, porém, aos renegados. Um expectro de luz aos que não se adequam nas características vis de homem ou mulher. O horizonte é confuso, dentre as verdades surge o que nos foi implantado com tanto carinho e dedicação...O esteriótipo de mulher/homem. As moças mais 'bonitas' dilatam seus caminhos, as mais 'feias' contém, em misto de medo e isolação. Devo ter uma certa preferência a tais marginalizados, um carinho quase que familiar, por ali me reconhecer. É dentro dessas mulheres que retiro a resultante. Isso sim me é belo e feminino, como uma característica ancestral, mas intriscicamente implantado e cultivado. Profundo.
Algo sutil, que ultrapassa tais subdivisões. Os homens renegados são de doçura gritante, um masculino claro, uma beleza forte, aqueles que se abre um sorriso contínuo e não se fecha mais, nunca mais. Me parecem os únicos seres merecíveis de se amar.

Contudo são considerados feios;inclusive um termo manco,pois há feios tão bonitos, digo do físico, da forma mais literal que se possa existir. O belo e o feio é só uma questão de perspectiva social. Dentro disso,espero que me entendam porque não venho a priorizar tais "bonitezas interiores" Primordial é a beleza que se exala, sendo o íntimo só uma prova concreta de tal soma. Peço licença a Vinícius de Moreas para que assim reescreva,


Me desculpem os belos, mas feiura é fundamental.








PS:

- Joel, am I ugly?
When I was a kid, I thought I was. Can't believe I'm crying already. Sometimes I think people don't understand how lonely it is to be a kid. Like you don't matter... So, I'm eight. And I have these toys, these dolls. My favorite is this ugly girl doll who I called Clementine. And I keep yelling at her: "you can't be ugly! be pretty!". It's weird. Like if I can transform her, I would magically change too.

- You're pretty.


A maioria das pessoas que vivem, os seres viventes, insistem em me enfiar guela abaixo o fato de toda criança ser portadora de uma incomensurável felicidade. Reconheço uma beleza gigante, claro. A infantilidade é uma das únicas coisas bonitas no homem. Isso gera milhares de coxixos das fêmeas que convivo. Os homens devem ser maduros, do tipo adultos, sérios...e todo o blá blá blá de praxe que me cansam os ouvidos. Pois bem, é como esperar o que se vive morrer, aglutinar, congelar, ser posto em cal ainda em pulso, para que seja reconhecido como homem másculo, homem ideal, daqueles que se encontram nas prateleiras idealizadas no mercado do par perfeito. (?)


Não, obrigada.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Império




"Ó Cesar,

Eis que quebrei meus castelos.
O que sobra são edificações trucidades, moles...
Porque eclode, ferve!"


Era uma terra vasta a beira rio, todos os habitantes eram caboclos magros sem dentes.Daquelas pessoas que se sente compaixão dócil, tão doce que dói. A terra era grande, população pouca, tão pouca que era o vazio espaço obrigatório entre os seres .Eram todos homens,toda fauna, toda flora eram masculinos espectadores. Não havia fêmea.
O expandir foi certeiro, os homens cresciam...Formavam edificações fortes e certeiras, eram caboclos de força espartana, ainda que de inteligência minguante, eram sábios estrategistas.Pouco a pouco foram ergendo os muros e tudo se converteu em cimento e cal, toda fé e toda glória almejada era aqui quatro paredes sólidas.

Um dos preceitos mais antigos para se justificar uma escravidão é a diferença.Digo porque grita no peito em que vivo,centenas de escravos pudores.A escravidão é totalitária, parte de um ponto cego e amplia-se. -Todo ser, é escravo do ser- Assim como o corpo é escravo do abstrato, assim como o pensamento é escravo da visão. O homem em si, é uma anglutinação de servo e senhor. Não há nada maior que o império existencial;e não é exatamente a ciência dos caboclos sobre o existencialismo que os levaram a essa segregação intensa e dolorosa, se deu simplesmente ao fato de que todos ali tinham uma casca puramente igual. Ombros largos, peito farto, e magreza forte daquelas que ofende.Não havia ovelha negra, não havia corpo em declínio, eram estátuas fortes em uma hegêmonia sobrenatural. Não havia inteligência a ser medida, eram homens brutos, de conhecimento bruto,eram como pedra que falava.Onde então encontrar a diferença vital para segregá-los em servos e senhor?

Devido a construção das paredes fartas, o império dos caboclos não expandiu. Nunca tiveram contato com fêmea alguma, nenhum caboclo nasceu, nenhum homem morreu. Só cresciam e envelheciam, ainda sem líder algum, sem guerra e sem paz. As edificações eram todas de uma mesma cor, de um mesmo tamanho, viviam sempre sozinhos, embora se juntassem para a caça em um horário rotineiro. A caça era silenciosa, de forma que ecoava um grito abafado do animal. Era um rugir denso, que ofuscava na pupila dos homens, o sangue jorrado entre as faces, entre as carnes e o barulho agudo dos dentes a molestá-la .A carne era comida crua, sem cerimônias, sem palavras.A face de quem comia era silenciosa e enigmática, como quando uma mulher goza de prazer em silêncio
Depois, abandonavam os ossos e andavam pesados para seus espaços, onde dormiam.
O caminhar era tão lento e doloroso, que os orgãos balançavam como se ouvissem música.Obervava aos poucos a genitália quieta, que acompanhava o homem farto, em seu único contato com os outros homens, igualmente fartos.
E foi nesse ritual bizarro, de prazer e morte, que pela primeira vez no império dos caboclos um homem chorou. Foi um choro gritante, daqueles de criança quando nasce. Para quem não conhecia as lágrimas foi o incentivo para que cuspissem dos olhos.Todos na metade do caminho das suas casas sentaram no chão, e calaram-se, como se estivessem pela primeira vez sentindo algo que fosse real. Um sentimento alcançável e palpável, que os aproximava do que chamamos de essência humana. Todas as lágrimas eram chuva em plantação moribunda e infértil. Eles, homens plantados ao solo, mostravam as primeiras raízes, que cresciam e se transformavam em um tipo de fúria efusiva. Eu, chamo do despertar das fêmeas no peito dos homens.

O choro durou aproximadamente um dia inteiro, não em lágrimas contínuas, umas até silenciosas e quentes nascendo no rosto parto e duro. O nascer ds lágrimas foi intenso e doloroso aos que conseguiam chorar, outros, porém, permaneceram estáticos e ainda mais duros e densos, INPENETRÁVEIS a qualquer sentir.

(Eis o subssídio da segregação)


No outro dia ninguém falou, mesmo que não houvesse uma comunicação direta e sensata, todos ali se entendiam, os olhos ainda vermelhos e vívidos, se converteram em transparencia melancólica -só quem chorou de mais pura dor em essência me compreenderá.-
Os que não derramaram as lágrimas não foram caçar nesse dia, muito menos nos dias vindouros.Amedontravam-se com a idéia de sentar ao solo e despencar, em vomitar todos os vazios, todas as dores secretas de cada ser.Os chorosos homens, eram de tudo menos covardia. O parto do primeiro imperador encontrara um divino berço, no meio de gritos selvagens e choro humano. Os espartanos caboclos chorando, e a edificação fria a espreita. O imperador foi o que não chorou, o que não se inflou de compaixão e alegria morta ao descobrir-se e vomitar-se. A característica de qualquer imperador vingente: negar que existe como existem os outros homens. Ele, pedra do próprio império.

Construiu sua própria casa, alimentou-se dos ossos da caça, viveu só, e com palavras falhas que se disseminaram como se espalha praga em plantação. Convenceu aos caboclos que as lágrimas era imitação medíocre das gotas da água do rio. ECLODIU
uns aceitaram calados, em uma submissão crente, como se aceitassem e cobrissem a própria vergonha, outros dominados pela fúria do absurdo gritavam, e então as lágrimas se converteram em grito, Gutural da caça.Gutural dos homens.
ECLODIRAM as revoluções. Ó CESAR, Ó DIVINO CÉSAR.

Eis o fim, que se aproximava doce, como doce sempre fora. O dia era de muita chuva, o que levou os homens a desistiram da caça, e caçarem uns aos outros. A matança foi bela, confesso. Enquanto se mostravam caboclos e fortes, e comiam a carne em barulhos agudos, sinceros! Era uma luta de pedregulhos andantes em defesa a própria fêmea, a própria crença que só existia em um mais profundo interior. A putrefação foi gigante que mal cabia a qualquer nariz. Dilaceraram-se. Como se fosse um holocauto sem judeus, sem negros, sem brancos. Todos ali eram igualmente pardos, iguais em casca, iguais em pele e corpo. Diferenciavam-se apenas na capacidade vil de chorar, choro muitas vezes morto, muitas vezes vazio. O choro que se chora, sem se saber.

Os que saíram vivos afogaram-se no rio.
César, morreu só na sua torre, colhendo as próprias lágrimas em frente a um jardim de chorosos homicidas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

PS:





Só os olhos me falam.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ah... Mar





Preguei-me a minha própria cruz.

Tudo começa com o soco que sangra... e sangra devagar até que se estanque.
O amor me molesta, com incansáveis pênis ativos- O amor é gozo na garganta.
Sei que choverão críticas fartas, conjugarão minha comparação chula, como uma má verdade...Desculpem-me. O amor é feio.
É de feiúra que dói.

E como seria mais fácil contentar-me ao gostar, só as paixões densas que reviram o coração mas o colocam no mesmo lugar quando o vendaval acaba. Dar o corpo por completo em gritantes mãos. Que me devolvam o que se toca, que não conheçam o que não se vê. Sou corpo que nada em mares que desconheço.

Uma hora a calmaria exige a nudez, a exposição viva do que somos. É inevitável que nos ataque(o amor)e contrói e contrói...contrói...milhares de edificações arenosas.
um dia chove e o castelo se esvai. Para que construir tão alto se um dia a terceira perna será amputada?
É como perguntar para criança por que se come brigadeiro. um dia inevitavelmente acabará o doce.

Me banhem com clichês de que a vida é curta, de que o homem pode construir vários amores...mas não esqueçam de dizer que é uma perda irreparável( se existe reparo me avisem da Super-Bonder existencial.)Me digam que a dor lateja, que se seca pedaços para nutrir-se do que se foi. O sofrimento traz plenitude ao coração.

Entrego-me aos contínuos crescimentos repentinos. Arrancam de mim o que me é vital.
Existe uma ponte infinita dentro da inexistência.


Porém amo e hei de amar...
Talvez um dia me entupa de gangrenas.
Estou disposta a riscos ME ARRANQUEM AS PERNAS





Castelos de areia perenes empatariam a visão do mar.

sábado, 11 de julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

Seio.



Não tinha nome, nem face. Um corpo liso com poucas curvas, como se estivesse comprimida entre dois armários, (e talvez realmente estivesse)Os olhos eram claros, embora não fossem notados, a boca farta, indelével. Os seios salientes,redondos, como se fossem a verdadeira reserva inviolável, do que se nutre. Era de beleza fragmentada, era necessário separar-se, desmembrar-se para que cada menbro vomitasse uma beleza...
Não era conjuntiva, era singular, ímpar. Seu corpo dizia.

Gostava do frio de se mergulhar, aquecia. Era o juntar de suas belezas perdidas, desconexas... e nadava, nadava horas a fio sem cansar e não era porque não cansava. O cansaço não advém do cansaço, o cansaço é dor, e não há quem canse sem doer. Nadar não dói. E seu peito, parecia comportar uma quantidade absurda de pesares.Seus seios choravam.
Então ficava fácil nadar, as lágrimas alimentavam, os seios sugavam, ela nutria-se.
Por aí vai o ciclo inegável.

Me doía ver tamanha dor aprisionada, era como um inchaço, um grito de dor que crescia, soprava, gritava, esperando o estouro, talvez nem ela mesma soubesse do que portava.É dessas dores anônimas que crescem em silêncio, um silêncio gritante. Ah, como me doiam os ouvidos. Se eu tivesse coragem, esperava ela sair daquela piscina e daria uma agulhada singela em seus mamilos.
A coragem que preciso, não é o medo da violação que qualquer lei, a violação de qualquer direito. A coragem que preciso é a de abrir a caixa da Pandora.
Ela, caixa, ser inanimado, seu seio a regia. Eu, telespectadora do grito, muda.

O grito era facilmente abafado, tanto que ninguém nunca a notava. Cada um que cuide do seu peito, da sua dor. Cada um com seus probrema. É.
O fato de ter me importado me consome mais que o problema em si, toda dor é egoísta, todo amor, todo gesto altruísta, não me venham com totalidades; só a pena é de uma tristeza total, e veja bem...Não era pena que sentia.
Sou seca demais pra sentir pena, ou qualquer tristeza que fosse. Sou rainha dos imimentes sentimentos, como se fosse obrigada a ficar entre o tudo e o nada, obrigada a postar-me entre numéros irracionais, sou número primo.

E assim seguiam nossas tardes de domingo,ela portava a dor, e eu a sentia.
Talvez nenhuma de nós fossemos cientes do trato mudo que assinamos, mas nosso encontro era sempre marcado. Todos os domingos, todas as manhãs de domingo.
Isso nos porporcionava um estado de êxtase indefinível, era como se fossemos expostas a uma dose considerável de morfina - Nos preenchíamos- Ela por saber que estava sendo olhada. Eu, por olhar.
No meu peito nunca coube nenhuma dor, nenhuma tristeza.Não me lembro o dia que chorei de dor a não ser física.Meus sentimentos só existem se forem palpáveis.
Sou uma cética sentimental, só sinto o que posso tocar.

A coluna da menina era envergada, porque seus seios pesavam. O que dava a seus olhos uma expressão triste, de uma constante dor, como algo que é introduzido na vagina, bem fundo e toca o ventre -Seus olhos eram mil alfinetadas no útero- Menina magra, de alma prolixa, sofria pelos seus acrescímos. Quando se tem nada se acostuma ao nada, quando se tem excessos, se adapta, mas quando os dois coexistem? Como fazer encaixar? Nada se entra, nada se veste. O ser é exposto, violado aos seus sentimentos primários. A sociedade não oferecia forma nenhuma a menina e a punia;
Eu portadora de vazios, encontro o barro para moldar.O mundo me oferecia uma fonte plena de nada. Sempre achei de um erro absurdo, tudo e nada serem antônimos.

Até que um dia a menina aparece com os seios reduzidos.
Ela não tinha mais a minha dor, logo não a sentia.
Sem dor não há cansaço, sem dor não há ferida, e sem dor não há vida.
Ah, que dilacerante ser posta assim diante de um espelho, para buscar minhas falhas, meus inchaços, minhas gangrenas!
Logo eu que cheguei a pensar que a menina gostava dos olhares(de alguma forma devia gostar...)há um calor cego no olhar, mesmo que constranja, mesmo que doa. O olhar aquece em suas mútiplas intenções. (Virou vulcão e entrou em erupção)
Meu penar, quão só me sentia. Eu, sem compaixão...sem a dor alheia que me oferecia uma difusa prova para tornar-me humana.
Pois bem, agora hei de procurar meus próprios burracos.

Faltei todos os vindouros domingos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A menina;



"A menina estava só.Ou melhor, a menina era só. A bem da verdade a menina nascera só, desprotegida, desguarnecida dos elementos usuais que protegem os seres que chegam. E como nascera estava vivendo, remoendo a solidão interna, aflitiva, que macera, desidrata, decompõe. A solidão da menina não é um mero estado físico, transcende a ele, é metafísica, mental e cerebral. A diferença da solidão da menina da solidão banal dos comuns se assenta na constatação de que ela vive em desacordo com os padrões vulgares, corriqueiros e padronizados das gentes que a rodeiam, cortejam, espezinham. Tristes seres os que não são capazes de compreenderem a solidão da menina! São meros componentes da inexorável estabanada manada, que vivem para comer, produzir, reproduzir; fazendo de conta que amam, respeitam e sonham. A menina prega no deserto sem ninguém para ouvi-la e compreendê-la. Recolhe-se à sua concha e se posta indiferente aos costumes relapsos, sem vituperar contudo, pois acha que em um dia qualquer há de aparecer em sua vida o mestre ausente, que haverá de compreendê-la, confortá-la, e desabrochar o seu sorriso. De expectativa em expectativa, de frustração em frustração, de tristeza em tristeza, deu para se assentar todos os dias nos rochedos da costa, para deitar seus olhos embaciados de solidão na vastidão do oceano, esperando ver em um dia qualquer, surgir no horizonte distante uma nau com as velas pandas, trazendo o argonauta dos seus sonhos solitários de menina, que haveria de sanar-lhe as feridas incrustadas em sua alma de menina, alienígena no mundo insensato dos cegos e mudos da conveniência obtusa. E de tanto ali ficar foi construindo castelos, edificando esperanças, dando vida a sonhos. Mas a nave não vinha! O argonauta também estava surdo aos apelos mudos da menina. Todas as tardes, por isso, naquelas pedras salgadas pela brisa do mar, a menina destilava sua revolta, carpia seu pranto derramado em lágrimas secas. Cumpria o seu fadário. Pois não é que em um dia comum, com sol, gente andando pela praia à cata de nada, meninos empinando pipas, a menina vislumbrou no horizonte distante a silhueta da nave esperada, que veio se achegando devagar, com as velas estufadas, em sua direção!? O argonauta estava na proa, de pé, vestido de reluzente armadura. É bem verdade que não trazia nem elmo, nem espada, nem escudo; e não é menos certo que ele já não possuía o vigor da juventude, era um velho já vergastado pelo tempo; mas ainda assim, era argonauta, e era esperado. Saberia ouvir o clamor que brotava do mais recôndito escaninho da alma da menina. Quando a menina foi recepcionar o navegante mágico, fez dos cabelos desgrenhados cortina, para esconder-lhe a esperança que reluzia do olho esquerdo. Limitou-se a semicerrar o direito, sonegando-lhe o direito de deslumbrar-se com a inteireza da beleza do rosto menina. Falaram a mesma língua, comungaram o mesmo propósito, se inteiraram, se complementaram, se entenderam. A cortina foi decerrada, e a menina sorriu. Seus olhos finalmente foram abertos, prenhes de esperança. Mas o viajante teve que seguir sua jornada de viajante, e foi embora. E a menina ficou a imaginar como suplementaria o ouvido esquivo que não estava mais ao seu lado. Não lhe bastara a identidade com o argonauta; queria mais, queria vê-lo, queria que ele espantasse aquela solidão atroz, dilacerante, que compunha todos os elementos que integravam o seu ser, mas dele apenas ouvia a voz distante, fazendo eco no tempo. A menina desabrochava, estava se transmudando em mulher, mas isso não lhe era suficiente; não iria lhe aplacar a dor de ser desigual entre os iguais, de ser incompreendida, de falar língua que ouvidos moucos e roucos não entendiam. A menina-moça não sabia que o argonauta, expectador de si mesmo por injunção e predestinação, vagava solitário pelos mares porque nunca encontrara o seu par. Também não tinha ninguém que o curasse da solidão de ser só no meio da manada. Ele também tinha suas próprias cartilhas, pelas quais rezava seus agouros no meio do nada, do vácuo, do intraduzível. A idade fizera com que ele já não vituperasse. A sua revolta já tinha passado, as suas máscaras já tinham sido derrubadas, todas. No caminho ele já tinha caído e levantado, deitado, dormido e acordado com a desgraça, o infortúnio. No seu tempo que rivalizava com o da menina-moça ele também já chorara por questões de nonada, já impacientara com os comuns, já menosprezara a vulgaridade dos idiotas. Depois aprendeu a conviver com tudo, calejado, acostumado. Não se deixou ser tangido, e muito menos que a sua cerviz fosse dobrada, em proceder de lacaio. Sobrou-lhe a alma, velha, mais sábia por essência que por mérito. A ALMA, ah, a ALMA. O que vem a ser a ALMA que não a própria essência do ser? ALMA não é LAMA, nem é MALA para conduzir um corpo às vicissitudes, ao depauperamento. Quando muito pode ser um AMAL eficaz e dedicado, com paciência e virtude para conduzir seu invólucro a uma finalidade profícua, redentora."

Antônio Francisco Patente.

sábado, 13 de junho de 2009

"É melhor ser alegre que ser triste..."


Eram amigas de longas datas, mas se o tempo fosse posto no filtro... nem eram tantas datas, nem era tanto tempo. Eram do tipo de amigas desmembradas que por mais tempo que se conheciam mais tempo se distanciavam. Enfim... eram desconhecidas de longas datas.
Como o dia amanheceu chuvoso se encontraram como de praxe na casa de Isabel, a mais velha e mais loira.Raquel era mais meiga, mais bonita e por fim mais feliz. Izabel sentia bem o peso de ser feia, porque pesa, amarga... é algo que nunca se digere. Ser feia é ser infeliz, e me desculpem as feias.
As conversas eram comuns, simples..."Ah, e aquela roupa de Alina de Jorge, tão bonita né?"
"As coisas no supermercado andam cada dia mais caras..."
" Não sei o que eu faço com a minha pele"
" Fazendo frio, né?"
" Quer coca?"
"O colesterol tá bom?"
" Tô fazendo hidroginástica nas segundas feiras!"
Ah , humanos... há de se soltar um sorriso de lado, meio sem graça, porque tais banalidades são comuns a todo peito, especificamente peito de mulher.

Passaram anos, choveram cântaros, e Isabel e Raquel continuaram... da mesma forma de um mesmo jeito, sozinhas

Um dia qualquer , se encontraram no supermercado, não chovia, fazia um sol gigante capaz de aquecer, de derreter qualquer felicidade, capaz de secar qualquer alma, qualquer peito e elas iam cobertas de um ar fresco de mentira, mas que escondia o suor...afinal... Isabel feia, Raquel bonita.

Existia um singular encontro, pois não chovia e nunca tinham se encontrado na rua,nunca tinham se encontrado assim...desprevinidas, despenteadas, com a vida tão exposta uma a outra(afinal tem coisa mais exposta que um carrinho de compras?)
Se cumprimentaram como vizinhas, aquele contato bem pelas beiradas...acho que esperavam uma chuva cair, o ambiente fechar, um tempo mesmo que breve pra esconder suas verdades, e pronto, enfim manter um contato sucinto, perguntar dos filhos, do marido...qualquer assunto que exige uma proximidade considerável, isto elas realmente tinham... conheciam suas respectivas cascas como ninguém.

"ô Raquel, você se sente feliz?"

"Claro que sim,Isabel, tenho tudo nessa vida! tudo que uma mulher poderia querer,
status, dinheiro, marido bonito, filhos lindos(...)"

Se auto bombardeou com elogios, dos mais externos. Falou da sua beleza, das horas intermináveis para cuidar de si...eram tantas coisas... Nunca pararam para pensar se eram felizes, ou não. Felicidade não era temática de novela... é miscível em algo de nós, e não há decantação que separe.

"E você Isabel é feliz?"

"Não."

Sempre assustador ouvir o "não", o não corrompe qualquer casca, qualquer cobertor, o não expõe o sumo, como algo que já devia ser expulso do útero e lá insiste em ficar, até que apodreça.

"Não sou bonita, nem rica, não tenho filhos, não tenho marido, não tenho em mim nada que transborde, sou tão seca"

"Tenho que ir, estou tão atrasada"

E foi mesmo, virou o seu carrinho saudável, cheio de embalagens bonitas, com pessoas sempre belas e felizes e foi embora... deixou Isabel só, afinal era quente e não chovia...
As cascas cairam, a abertura foi exposta a dor, as duas enfim nuas, enfermas...desde então nunca mais voltaram a se ver.



Choveram cântaros, uns,sem casca,morreram afogados.


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Gota d'agua


A água do chuveiro era quente e caia aos poucos sobre o seu peito gélido. A face era feia, sem nuances como se o ritmo do tempo estivesse aprisionado entre as rugas. O cabelo incolor, molhado!
Quando Adara pôs os pés no chão naquela tarde, sentiu entre as veias o peso frio da solidão.O que faria se um dia perdesse o calor do homem que acreditava amar? Era o barulho da chuva, é, deveria ser! As gotas são deveras sozinhas...
O sofá tinha o corpo do marido desnudo, cheio de cores que acalentavam a alma.Sentiu repentinamente uma vontade incontrolável de roubar aquelas cores pra si, como se no contato do corpo afogasse a solidão.Deitou-se então, igualmente desnuda, junto a ele.
Adara, nome de estrela, era mesmo como estrela em constelação(Observam o brilhar e o ofuscar uma das outras) Ah! Aglomerada solidão! O marido levantou, e ao sair deixou a moça sem beijos, sem fala, sem nada... A tarde chegava ao fim.
Ao acordar do sonho, sozinha no sofá, incomodada pela luz do sol, que rompia a janela,despertou...E como era perigoso despertar! Tinha medo de perder-se em si, no vazio do seu peito, em devaneios oníricos.Se caisse lá e nunca mais voltasse?!
Abriu a janela na tentativa de fazer-se vida, mas desafortunadamente, encontrou espetantes antônimos.Árvore verde, arrancada, corpo vivo, tão cinza... Se ouvia distante um grito de dor, um grito de estrela, no infinito.
Ao contrário dos seres humanos comuns, não chorou.Era como se o frio congelasse suas lágrimas.Ao virar-se, o espelho da sala a encarava.Meu deus! Como estava velha! Como seus olhos azuis estavam sem brilho... Que desespero se apossou do seu peito.Despiu-se. E continuou ali, parada, até que o tempo aqueceu e alguma lágrima tímida caiu.
Havia um barulho, eram sirenes vermelhas, vermelho sangue... vermelho que estampava o seu rosto.Levaram, limparam tudo, colheram os pedaços de vida que restava, sem frutos!
Quando seu joelhos falharam, foi tomada pelo frio e caiu ao chão.A última coisa que viu, foi a lua cheia iluminando a copa das árvores que incitavam a queda.Os olhos, azuis, vislumbraram uma luz anil.Acreditava que eram seus olhos em outras épocas, em outros tempos, mas ainda assim eternamente fadados a cair no abismo de si. Ela, sangue-suga, presa ao próprio corpo, a própria alma. Concretamente só.Seus olhos choviam...

quarta-feira, 6 de maio de 2009


"Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também..."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cimento, Sedimento.



Eis que encontrei meus desertos.


Encontrar-se, é submeter-se a uma maré dos proprios sedimentos.

areia, areia, areia.

Eis que dupliquei meus desertos.

nutridos de mim.

terça-feira, 14 de abril de 2009

'o vazio não é vácuo...'

http://andrewsidea.files.wordpress.com/2009/02/gummo1.jpg



Gummo.
"Life is great. Without it, you'd be dead."

http://www.youtube.com/watch?v=QJRGFoJN8k0

Xênia, Ohio

http://www.idreamof.com/disaster/xenia/images/xenia_tornado.jpg


Se está seco é porque um dia chegou a transbordar, na rua não há nada, senão o nada

Construir casulos;minha vida não depende de mim, nem a nossa depende de nós, andam por aí nos mastigando, uma espécie de orgia espiritual, um fragmentar da alma em mil pedaços, para ser digerida pelos cocos, pelas beiradas tangentes...
cada um com seu brilho difuso, nunca completo, nunca brilhante em demasia, cheios de vazios preenchidos de ausência...até minhas verdades, minhas palavras ao meio juntapostas, nunca conseguirão ser plenas... nem os pedaços de lágrimas em completo serão sinceros... é o acoplar, o juntar de tudo em nós. O ser e o nada em uma igualdade crua, Satre em seu bem dizer.

Eis minha verdade absoluta: todo ser humano é vazio.

Vazio santo...
E o que seria de nós se o homem fosse pleno?
se os átomos em teorias arcaicas fossem mesmo tão juntos, sem nenhum vão, em vão.
E o paradoxo-alicerçe alimenta, o vazio nutre a alma porque o vazio não é vácuo...
o vazio é limpar-se, encaixar-se, em si... como um fruto oco, porém não menos saboroso, este deve se postar triste por ser empanturrado de coisas moribundas...

O vazio é também depósito de tristezas.




As cidades,ah... 'aglomerada solidão' tão vazias...
Lembar de expremer e beber meu suco todos os dias, sou densa, meus vazios florescem.

terça-feira, 24 de março de 2009

Devaneio gramatical.

Siriguela deveria ser nome de marisco.

Purpurina.

Nua, caminhava como se nenhum pano fosse capaz de cobri-la, seus poros falavam. Era do tipo de mulher intensa, sem cobertores, ou aperitivos sexuais para modelar a face, caminhava invisível entre as mulheres "brilhante"s que brilhavam somente porque entre os peitos murchos, de existência medíocre, estava contido brilhos e purpurinas; matéria bruta degradada
Ser invisível é ser sucetível aos pisões, uns pisões que arrancam a carne, e expõem a derme aos ardores humanos. Os invisíveis amam,amam porque não há nada deles há não ser amor. As brilhantes dizem amar, e levam consigo as mortalhas.

Ah, como é triste carrega-las no peito.

Em mim só há reflexo de alma, entre os nuances pálidos transparentes do meu rosto, tranpiram o existir dela em mim, sou quase invisvível em totalidade, o esbranquiçado que resta, foi corrompido. Tenho futilidades externas, que pesam no meu penar.
Levo no meu peito, vários nuances, vomitos sinceros que não pesam, apenas nutrem meus laços desnutridos. Ele, nuance vital do meu peito mediano, absorvia a beleza das tais mulheres 'brilhantes'...e durante muito tempo tentei considerar uma não-verdade. mas estavam ali todas as palavras ditas e repetidas, e meu asco aumentando a cada silaba dita. Como poderia admirar-se perante tanta face coberta, tanta carne indigesta?

A alma não é lama.

Aqui jaz meu ego trucidado.

Fragmento de pensamento.




O tempo é ilusório...




...inrrisório.

domingo, 8 de março de 2009

Flúor.


Era calada, somente porque temia.

É o temor que enrijece a densidade de alma, comprime... porta a preocupação absurda de enlatar a existência, em tamanhos compactos, portáveis.Acaba cortando as beiradas compostas, e levando o recheio seco. Eu, portadora de gigantes plasmólises, de citoplasma murcho como célula vegetal chorosa, sou muito de mim nos dentes.
Já os olhos estão afogados, não resistiram as tempestades contínuas, mas compreendem uma sinceridade virgem, inégavel aos temores. Os afogados olhos que possuo, me são por completo, uma cópia inégavel do que sou túrgida, até aos detalhes mais tolos(covenhamos, todos os detalhes são tolos).
A essência é o compacto da alma, fiquei pensando por séculos,que deveria esperar algum tipo de temor sólido parar comprimir por osmose minhas partes de recheio e jogar fora as beiradas, mas os temores me foram muito solidários perante aos olhos, sabiam que ali me precisava sem cortes, sem vírgulas. A constatação que faço é que sou três em um corpo só.
Os dentes não foram poupados,arrancaram dele a transparência(deve ser por isso que são tão amarelos) expressam minha essência, sem beiradas, em apenas recheios, como se fosse jogado a metade, sem inícios ou fins.Eis o sorriso o meu maior mistério, tão grande que é o maior mistério físico que posso comportar.Sou toda nua e minha boca a interrogação vital.

Se existimos em dualidade, expressamos uma quantidade proporcional de infertilidade aos próprios solos, ser totalmente exposta em entranhas, é renegar os individualismos, preciso cobrir-me, tenho minhas cortinas alojadas. Minha boca digere minhas beiradas, em dentes tão mudos. Sou nua mas lacrada, uma parte minha foi lacrada a mim...
Assuto-me como o conhecimento e a totalidade são grandezas inversamente proporcionais.

Lapso de pensamento



Prefiro dentes aos olhos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Exisitia um moço, o moço existia
Morreu.

Afogado em afagos.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Hello Stranger



Prefiro os estranhos. É de conforto gigante em saber que estás completamente lacrada dentro de si, que ninguem lhe pertuba e nem irá. Gosto dessa sensação estranha de ser comida pelas beiradas, como um prato quente, que arde, arde, arde... ARDOR.
Sou como repelente, entre as minhas principais características só sei repelir...
e como me sinto triste nesse fardo de ser repelente aos demais insetos próximos.Não tenho cheiro, jorra do meu sangue até a pele. Assasino os carinhos, e guardo as mortalhas.

Os estranhos porém só beliscam o meu exterior, devoram a carne, os pedaços vomitados do que sou...colam minhas partes e constroem meus desenhos, mais bonitos, mais vívidos, menos repugnantes.Ah se todos os estranhos que me rondam soubessem, o tamanho do carinho que guardo em mim.

Sou mulher transparente,coberta de vazios, nesse curto espaço do que não existe, sinto-me só.
afetos se vierem, por favor, vão logo, minhas raízes não se fixam em solo algum.
e se um dia houver amor, que fique.


cansei de joga-los aos montes nos baldes das mortalhas...
de estrelas que brilham, ao menos levo uma cheia de arestas no meu peito cansado de regurgitar.


"Alice: É o único jeito de deixar "Não te amo mais, tchau!"
Dan: E se você ainda ama a pessoa?
Alice: Você não deixa!
Dan: Você nunca deixou alguém que amasse?
Alice: Não."


Closer.



'Sou uma mulher de tristes palavras.De que era que tinha tanta...






tanta culpa'

domingo, 15 de fevereiro de 2009


"Na minha memória - tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos"

Caio F.

Com toda a licença Caio F, preciso tirar "coração" dessa sentença.
o amor para quem eu escrevo transcede o carnal, a veia, o palpável...
Com toda a ousadia, reescrevo...

Na minha memória - tão congestionada - e na minha alma - tão cheia de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos

Vômito. (2)


Meu peito porta mil e tantos cavalos calados, eis que se postam correndo, fazendo jorrar.
Um sorriso que aquece, que completa, um peito (como o meu) dilatado com espaço pra tantos amores espirituais, cheios em si por essência.
Meu peito seco, durante tantas épocas tão vazio... sente-se tão alegre, com os dentes tão expostos..por conseguir(teu) afago. São os átrios que respondem,em uma ponte sanguinea, forte em si, que leva, e rega, as mil flores que me faz brotar, ou que faz arder, secar.
A solidão , que leva por mim um amor maternal, está colada ao meu muco como uma segunda pele... grossa e espessa...

...mas você rompe, corrompe, penetra na minha solidão, mudo.
Em amor que transborda por entre peles, suor e sexo.
me confunde em que corpo agora existo.

Do catarro à saliva.

Pleno corpo, plena alma, em plenas mãos.

Em suma: sou vomito multicolorido, reviro as estranhas.
O amor em matéria bruta.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

tum tum tum tum


"Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa..."

Buarque,Chico.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Para digerir





http://br.youtube.com/watch?v=0POJpWSk2g0&feature=PlayList&p=7960845CC9817345&playnext=1&index=40

Moça indigesta.





Seus pedaços não cabiam no estômago pequeno que contrastava com os contornos do seu corpo, farto. Devia ser do tipo de mulher, que se usavam vários talheres... e se enchia logo com as bordas esquecendo-se do miolo (a melhor parte do recheio, certamente)
O restaurante era agitado, e lá estava ela, em uma mesa distante... com olhos mansos, fundos, nesse misto de intensidade que até hoje não consigo reproduzir. Me enchia os olhos...,as mãos, os pés, estava tão farto de olhá-la que perdi o apetite, me senti preechido, paralisado.
A moça concentrada no mundo prosseguia, progredia rapidamente como um câncer, câncer doce, benigno.Nós, telespectadores silenciosos do olhar mudo, continuávamos...observando de soslaio o brilho que um pouco nos cegava, uma cegueira cheia de antíteses, pois nos dispertava uma visão de um mundo desconhecido. Um mundo intenso! (meudeus, como intensidade assusta!)
Estava sentada na frente de um moço que demorei a notar, ele em contrapartida não parecia enxerga-la, olhava com delicadeza as moças ao redor, cheio de carinho e sexo transbordando, imaginei que nada tinham senão mera ligação profissional
Ela não parecia sufocada.

Fiquei a observando, na minha solidão do meio dia, até que ela susurrou umas palavras ao moço a sua frente....

" Não consigo digerir-me"
" Comida pesada inplica em digestão difícil"
mal observara que seu prato era essencialmente vegetal
"É, devo estar pesada por dentro"
" Que nada, você está ótima"
"Humm"


Soltei um riso abafado e dediquei-me a minha feijoada.
Pobre moça... vai morrer sem que ninguém consiga digeri-la,pensei
Pobre de mim, que anos depois fui descobrir que tinha o estômago dilatado.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Josef K.

O cão é nu



Queria engolir o mundo.
Era um misto de ousadia e sensibilidade animal...
tinha tudo e nada tinha,além dos dentes e do muco quente, amável...
Guardava-se a sombra, da areia quente, quieto.
como se de alguma forma conseguisse interromper o giro do mundo, esperando ele rodar, sem manifestar movimento algum...

Eu, muda em minha rede sólida, beirando a areia, solitária e triste engolida por mim, banhada de cores cinzas, beges, em nuances quietos.
Olhava, com olhos transbordando como em enchentes do mar...o cachorro me amava, amava ao solo, amava a si.
envolvia minhas entranhas com um olhar que escondia nos olhos lacrados de sono, suponho.
Mas no dia que acordou, esqueceu que existia vida.


e vivia!



Lispector, venha cá, convenhamos...
não apenas o cavalo é nu.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

'Momento VIII'















"O corpo existe e pode ser pego.












É suficientemente opaco para que se possa vê-lo.
Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo.

O corpo existe porque foi feito.
Por isso tem um buraco no meio.
O corpo existe, dado que exala cheiro.
E em cada extremidade existe um dedo.
O corpo se cortado espirra um líquido vermelho.
O corpo tem alguém como recheio. "

Antunes.