terça-feira, 30 de setembro de 2008

Esquadros.




Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Vômito.



Pra vomitar todos os ardores:

Sou cinza, e como lebre sou delicada e veloz, tenho traços rudes, pouco feios, nariz em descompasso com os olhos meio mortos, meio tristes.
Por completo sou como Frida, ainda que menos resitente e mais quebrável, mas em expectro,a dor.
dor do sensível, e do acoplável, a dor de solidão em companhia. Ainda que tivesse mil homens, mil pênis companheiros, me postaria de interior seco, como o espirro de uma gripe que o muco já foi varrido, sugado.

Aqui estou nua, postada na frente de todos, com voz engolida e carisma guardado, só estou, estou como quem vive, estou como quem passa, estou como quem é. Tenho arranhões a beira peito, e lágrimas quentes pra acalmar o seco, o sorriso é amarelo mas está a polir, a insanidade dos fatos que me rodeiam são caverna, e eu estou medo de chegar a luz.

Sou como uma concha de um caracol de área restrita, estou como números perdido em curvas, e tenho o infinito presente em suas matérias.

Que me leve a vida, e que não me faça regressar, tenho asas mas são leves.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Homem Apagado


Acordou já acordada, era noite, não dia.
Os peitos fartos se expandiam por dentro da carne branca, transparente/leitosa. Abriu os olhos lentamente como se pudesse tornar a realidade moldável no tempo de contato (cílio-pele)

Realidade observada, boca muda, olhos falantes, músculos piscáveis. Lágrima caia congelando.

- A Borracha por favor...
Entregou em gestos mudos sem abrir a boca pra exercer o timbre
- Obrigado!

A cabeça balançava em tom de aprovação e a boca mexeu para o lado na tentativa frustrada de sorriso; e as lágrimas quentes, mais mudas ainda, transpiravam com o inquietante suor. O sinal tocou, sala vazia, agora sem menino da borracha, sem professor, estava a sós ela e os números.
Adormeceria já adormecida, era dia não noite...

-A Borracha por favor...
- Aqui está
- Cadê a menina que aqui sentava?
- Morreu, câncer, coisa brava...

A lágrima desceu muda, o coração batia em ritmos descontínuos, sentiu náusea, náusea que se sente quando alguém vai e não volta, náusea de vomito pós-porre, náusea da saudade do que não existu...


...mas não pela moça, era pela borracha.