segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Moça indigesta.





Seus pedaços não cabiam no estômago pequeno que contrastava com os contornos do seu corpo, farto. Devia ser do tipo de mulher, que se usavam vários talheres... e se enchia logo com as bordas esquecendo-se do miolo (a melhor parte do recheio, certamente)
O restaurante era agitado, e lá estava ela, em uma mesa distante... com olhos mansos, fundos, nesse misto de intensidade que até hoje não consigo reproduzir. Me enchia os olhos...,as mãos, os pés, estava tão farto de olhá-la que perdi o apetite, me senti preechido, paralisado.
A moça concentrada no mundo prosseguia, progredia rapidamente como um câncer, câncer doce, benigno.Nós, telespectadores silenciosos do olhar mudo, continuávamos...observando de soslaio o brilho que um pouco nos cegava, uma cegueira cheia de antíteses, pois nos dispertava uma visão de um mundo desconhecido. Um mundo intenso! (meudeus, como intensidade assusta!)
Estava sentada na frente de um moço que demorei a notar, ele em contrapartida não parecia enxerga-la, olhava com delicadeza as moças ao redor, cheio de carinho e sexo transbordando, imaginei que nada tinham senão mera ligação profissional
Ela não parecia sufocada.

Fiquei a observando, na minha solidão do meio dia, até que ela susurrou umas palavras ao moço a sua frente....

" Não consigo digerir-me"
" Comida pesada inplica em digestão difícil"
mal observara que seu prato era essencialmente vegetal
"É, devo estar pesada por dentro"
" Que nada, você está ótima"
"Humm"


Soltei um riso abafado e dediquei-me a minha feijoada.
Pobre moça... vai morrer sem que ninguém consiga digeri-la,pensei
Pobre de mim, que anos depois fui descobrir que tinha o estômago dilatado.