terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre a dor: odes mínimas.




O que existe em mim, é um fragmento sólido de algo que já fui. Restaram os olhos, os sapatos surrados e as lembranças. Meu coração: amores mal acabados em um mar de solidão. Infinito. Das manhãs com cor de zinco, do cansaço, da vida que morre em sol poente. Lúcido. Sem chicote e de mãos limpas. Cá estou expondo o meu dorso ao peso da cruz.Meus ombros cansados não se enchem mais com os sonhos matinais, nem com as vibrações do sucesso. Um barco a esmo.
O sentimento do vazio, o abstrair do coração. A dor é estado perene das minhas construções. Um câncer que por vezes lembra de latejar e contar minhas mortes com precisão. Um relógio apático, cinza escuro, da cor da pele, do tamanho do peito.
A dor é minha fonte de força, minha vitalidade moribunda. Já perdi minhas feições, meu sorriso efetivo,a mocidade dos meus olhos leves e vespertinos. A dor comeu minhas esperanças, meu estado de latência. Hoje, ser é doer.

Um comentário:

Janaina Cruz disse...

Dores nos inspiram, nos ensinam, nos encorajam... Que toda dor nos seja proveitosa...
Amei teu texto!