sexta-feira, 1 de abril de 2011

Festa do Vizinho

Não há delícia em se perder. Às vezes aperto o peito em prece muda procurando o pedaço vivo de mim de outrora: Não me encontro. Todos os meus lapsos são descontínuos, minha vivacidade de tão apática me tira a beleza dos dias.

Não atraio olhares atraentes, as conversas que me cercam não me encantam.Faço parte da corja dos que andam nus: sem face sobre o que sentem ou pensam. A parte ofensiva do que sou está distribuída pelo meu dorso de forma que todos machucam. Sou tosco espinho ao redor de rosas cálidas.

A felicidade dos comuns me é contrangedora: Da minha janela selada por silêncios ouço o som de gritos, de música, de festa. Onde estou? Selada em mim, em uma mesa fria, acolhida pelo cheiro do que supostamente se consagra em ser feliz. Não sou, simpleste por nada conseguir ser. Minha conjugação é estar. Estou, e estou em todos os lugares, distante do que sou, perdida de mim, difusa. Só.

A poeira da solidão,amarga meus nuances. Quando preciso de mim, não alcanço. Todos os meus encontros, adiados. Todos os meus livros, parados na estante. Todos os meus medos, grudados na minha pele.

Não me encaixo: Sou peça amorfa, preciso de intensidades. Mais do que abraços e beijinhos, conversas breves e bedida compartilhada. Onde estão as pessoas por de traz do que gritam ser?


Há areia e mais nada


PS: Incrível como a depressão pós-euforia é ofensiva. Acho que nessas confraternizações esgotamos todas as nossas máscaras.Afinal, estamos todos muito fartos do que somos.

Um comentário:

Rebecca Sanches disse...

Você escreve muito, muito bem. Sério.

Bom. O ato de se perder é péssimo. Ao mesmo tempo em que nós acabamos por acreditar ter plena consciência dos nossos limites, não conseguimos ver muita saída. Sempre vemos o "podre" ao redor e em nós mesmos.

Enfim, eu não costumo ter muita euforia.

Bjs e parabéns pela boa escrita. Continue porque vale a pena.