Me doutrinei assim. Aprendi a perder tudo que amei verdadeiramente. Não conjuguei com crença os pronomes possessivos. Nunca o eterno. Nunca o sempre. Tudo é finito e leva ao fim. No reencontro: a esperança. Voltei a crer no eterno. Acreditei no nosso amor em uma dimensão metafísica e atemporal. Como pude acreditar um dia sequer no esgotamento de algo magnânimo e luminoso? Doeu. Doeu mais uma vez.
Aos poucos , enterrei no meu peito. Quis te ver feliz. Acreditei. Cri. Fiz da dor um quadro bonito.Um girassol. Me alegrou pensar no seu sorriso doce iluminando outra vida porque pensei nas mãos quentes que já acalmaram meu corpo mundano e morno. sentia meu corpo brilhar ao imaginar os reflexos do seu amor por outrem. Luz. Leve. Infinita.
Naveguei. Peguei meu barco e afundei nas solidões aquáticas e amargas que me apertavam e horrorizavam.No fundo do meu oceano descobri que conservava pequenos vegetais que sobreviveram sem luz.Cheirava enxofre. A vida ausenciava, mas pulsava. Na superfície do meu barco esperava a cravagem da âncora em uma praia frutífera onde eu pudesse abandonar os meus medos (meus vegetais abióticos) e plantar minhas raízes oxigenadas e imensas. Planejei chegar até a praia, mas você chegou em mim. Tempestuoso.
Estava difícil manter tão belos quadros. Ficou difícil manter vivos os girassóis. Tive medo ao te ver penetrando nas minhas águas tão profundas outra vez. Tive medo porque não havia sincronia no seu nado. A cada braçada que você dava, você desejava a praia que abandonava. Ela estava nela.Contudo, já estava amorfa e desconhecida pra mim.A sua praia mezzo abandonada se mesclava a figura dela. Minha praia, ainda não atingida, representava os campos frutíferos do nosso futuro (juntos?)
Houve medo, cegueira e câimbra.
Antes que pudesse decidir já havia naufragado.Outra vez.
Estou aqui no fundo, bem no fundo de mim, procurando aprender com as raízes frágeis dos meus vegetais franzinos. Frágeis e débeis, mas capazes de sustentar uma vida, quiçá o amor. Estou completamente perdida não sei onde deixei meu barco. Em que superfície? O medo do afogamento já me paralisa. Você na eterna dúvida, preso entre as duas margens do seu rio.Eu no infinito que existe entre as duas praias desse mar que já me navega. Tão forte. Esse cheiro de enxofre. Essa escravidão dentro das minhas águas aflitas. Arre. Vou sucumbir.
Por um momento acreditei que seu olhar silencioso pudesse me guiar até um lapso de vida.
É que essa pedra no meu peito tem me afogado...
Não consigo me libertar. As memórias nossas tiraram a objetividade dos meus músculos.Nado sem direção alguma pelo desconhecido que há em mim. Ainda tenho forças porque ainda acredito na cumplicidade do nosso amor.
O brilho resplandece e me faz boiar. Flutuo.
Não sei como irei expelir essa pedra que arde e pesa. Ver você ancorar em uma margem. Quem sabe? O seu carinho mudo e hoje ausente é incapaz de me guiar.Tudo é incerto, marulhoso e desconhecido. Às vezes meus músculos enfraquecem e desespero.
Vai passar. É a certeza. Sou forte e nasci no mar.
Um comentário:
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