Sobre a vida social: Um túnel cheio de vertentes sólidas que não levam a lugar nenhum. Os contatos se reciclam e por fim o retorno ao ponto de que somos todos eternos sozinhos. O efêmero representativo dos outros em nós é expressão da nossa cultura atual. Nos relacionamos cientes de que provavelmente não veremos tais pessoas de novo, ou que não devemos esmeros afetivos.
O eterno retorno, o cinismo em permitir, o sadismo . O fato das coisas se repetirem infinitamente em uma mesma lógica, faz com que aceitemos. Não nos importa se é doloroso o fato da distância,do contato ligeiro e toda essa masturbação sentimental. O corriqueiro é aceito pela constância e não por convicções morais.Pois, até as nossas convicções seguem um ciclo lógico dentro do nosso crescimento.
Eis nossa cultura do eu sozinho. A solidão platônica é nova, como uma corja de novos românticos, em que se sofre por querer encontrar essa solidão-encontro. A busca eterna do que se é. Esvaziar o peito dos amores cíclicos e sozinho permanecer. Sempre me irritou com tamanha eficácia a oratória de que os amigos, assim como todos os amores, são coisas passageiras e o que muito significa no presente mudará o sentido no futuro. Em resumo, todos os amigos mudarão de face, assim como a nossa vida e nossos hábitos. É fato que a vida de cada um de nós toma uma estrada e converge para um caminho nesse túnel. É muito mais fácil andar sem esperar ou olhar para trás. Cada um segue seu rumo, e o coração metafísico vai calejando de tantos passos impressos no dorso. Perdemos aos poucos a responsabilidade, a sumária importância que um dia tivemos na vida de outro, simplesmente porque novos rostos virão. O ser social, em corpo, nunca está só.
A fila anda. Sábia frase, sim. Pois na nossa sábia cultura somos condicionados a andar na fila do que nem sabemos, simplesmente para não entrar no ócio-individual e eventualmente sermos confrontados com as nossas ambições desconhecidas. Reconheço que nessa tal fila trocamos informações vitais ao crescimento, porque olhamos nos outros(tantos outros) o que não reparamos em nós. O objetivo é andar, andar rápido para qualquer lugar. Na diretriz atual, a velocidade é exaltada de tal forma que constantemente estamos perdidos
Como uma válvula de escape, uma solução desesperada à falta de objetivo em nossos passos. A solidão platônica, antagônica ao que um dia foram amores. Aqui se concebe o clichê: Há duas formas de aprendizado, o amor e a dor. Os amores viraram múltiplos e se perderam aos poucos do foco principal :o conhecimento do homem e a afirmação gradativa em ser "Pessoa". A solidão não admite múltiplos, está à mercê do que somos ou do que nunca seremos.
“Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?)”
Fernando Pessoa
sábado, 24 de julho de 2010
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Um comentário:
Uau!
E a gente, mesmo nos sabendo sós, nos fazemos da passagem entre os múltiplos, múltiplo que vem de encontro, múltiplo que vai ao encontro. Eternamente sós e eternamente necessitados de companhia, assim, como um sozinho acompanhado, tem esse poema de Pessoa:
“Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.
Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.”
Como é que fica a coisa toda? Se saber só? Se saber necessitado de companhia?
Que tal um só que anda às várias? Um que se sabe só enquanto necessita de companhia, um que quando acompanhado se sabe só dentro do que vai passando. Não sei se “eternamente só”, essa coisa de largar tudo pro sujeito é estranha, a gente se faz de tudo, e o resto se faz da gente, tudo que é tocado se mistura com o que tocou, pra sempre. Mesmo a gente, que se acha só quando é relação, esquece da relação de si consigo mesmo, a lógica permite que eu seja várias unidades em relação com várias unidades dentro de uma só unidade que sou eu, mas essa unidade que sou eu é várias, porque se faz na relação com outras unidades que tão fora e etc.
Sei não, eu me confundi foi todo, e me amarrei no texto.
Um beijo, bom te ler de novo!
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